sábado, 16 de outubro de 2010

O BAÚ E SUA EVOLUÇÃO

Houve tempo que os guarda-roupas eram móveis raros em nosso Brasil. Coisa de gente afortunada, e olhe lá, destinavam-se só e unicamente para guardar as roupas passadas a ferro de engomar nos dias festivos ou domingos, quando se tirava as roupas do baú e se deixava no cabide daquele móvel, símbolo do luxo de algumas residências senhoriais.
Em nossas antigas casas, de raros móveis, eram os baús que mobiliavam as alcovas. Cada um com o seu baú. Uns de madeira recoberta com couro, artesanalmente enfeitados, outros de madeira de cedro ou outra madeira de lei, simples caixões , onde os segredos de cada pessoa eram sigilosamente guardados, verdadeiros sacrários da individualidade.
Somente no baú, nas velhas famílias, havia a individualidade, o mais tudo era coletivo. Quartos e alcovas divididos pelos vários filhos e filhas, que dormiam no caso do Nordeste brasileiro em redes – estas também individuais. Resquícios de um Brasil mais simples, onde para casar não eram necessárias tantas alfaias e riquifiques, bastavam um ou dois potes, uma mesa, uns tamboretes e as redes de dormir, algum pano para envolver-se, algumas panelas, poucos pratos... o fogão de lenha fazia parte da casa.
Daí veio o tempo da industrialização e tudo se complicou. Em princípio com poucas quinquilharias, alguns objetos úteis e inúteis para o dia a dia, mas à proporção que a industrialização avançou no século XX tudo foi se sofisticando, se complicando. O aristocrático guarda-roupas de madeira de lei cedeu espaço ao descartável guarda-roupinha quase de papelão, que dura dois ou três aninhos, as duas ou três mudas de roupas foram se transformando em coleções de inverno, verão... tendência, roupa virou “moda”.
E aquelas casas de vãos coletivos, com quartos que abrigavam a filharada toda, foram individualizando-se: O quarto da “moça”, o quarto do “rapaz”, com seus objetos individuais TV, computador, banheiro individual. O pátrio poder transformou-se em "poder familiar", em tese era a "democratização" da família.
Chegamos, enfim à era dos Closets, o guarda-roupas já não serve mais, ficou pequeno para as nossas vestimentas, nossos calçados, nossas coleções de tênis, sapatos, cintos, adornos, perfumes. Novas necessidades. Aspiramos ser gente, sermos felizes, livres, donos e donas de nossas ideias.
E o velhos baús, aqueles que sobraram, saíram das camarinhas e adornaram as salas, não mais para guardar os segredos, as redes e os lençóis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário