terça-feira, 27 de julho de 2010

POEMAS DE RACHEL D. MORAES
Lendo contos e poemas da escritora considero-a com muita justiça, uma figura feminina importante na literatura brasileira em nossos tempos. Poesias e contos, sendo ambos significativos. Rachel é portadora de uma sensibilidade exacerbada por fortes impulsos de humor, ousadia, doçura bom gosto.
A Carta




A carta é um papel que grita,
Palavras de desespero,
Que escorrem pelas bordas
Como sangue novo e quente.
A carta é um espaço limitado
Com uma alma latente.
Nela está contida mil letras
De redondas formas,
Que ora se lançam
Num fio de bailarina
Enfeitando o texto,
Ora caí abandonada pela dor
De quem escreve e mente.
Retangular e rosada
É a carta da amante,
Que pede, implora...
Volte!
Quadrada é branca e a carta
Do amado que responde:
Esqueças!
A carta é um punhal
Solene e breve,
Que fere e fere
Tantas vezes
Que se diz
Soletre...
Só estamos bem
Mesmo que breve,
Quando nos consentimos
Rasgá-la
Com as próprias mãos
E o coração leve.

Rachel D.Moraes


A Estátua que Chora




Que a terra me seja leve,
Pois me retiro desta vida
Sentindo um gosto de travo na boca
E o peso pungente da vida densa que se foi.
Toquem árias em flautas de caniço
Para que eu descanse e possa retornar-me planta.
Molhem a terra, que a relva já começa a nascer em mim.
Fiquem e contemplem essa paz única
Que sai de meu corpo inerte.
Não tenho mais arrebatamentos
Que não seja o de te ter em contemplação.
Estou aqui, sem aquela consoante batida do coração.
Os instantes de pesar se foram com o último suspiro.
Aquela que almejava o concreto das coisas,
Aqui descansa em plenitude.
Estou quieta, em estado perene, quase gás etéreo.
O que era se foi,
Deixando-me ser, somente, partícula de poeira.
Nada deixei que valesse um espanto qualquer.
Aos poucos não restou mais nada do que fui.
Agora, o que me consola neste vazio de ar
É essa figura de pedra a me velar.
Percebo o seu silêncio calcário,
Suas asas de penas talhadas.
Sinto por ela mais pena
Do que a pena dela por mim.
Em seu olhar consolador há tristeza e pesar.
Quem sabe, essa lágrima que penso ver,
Seja a mesma que tenho em mim,
Por uma tristeza de ser e não existir.

Rachel D.Moraes


Essência


Hoje quando abri a janela,
Fui convocada sutilmente a olhar.
Ele circulava pelo ar, por toda parte.
Invisível era esse chamado,
Trazia aos meus olhos,
Uma essência mágica.
Atravessava-me antecipando
Uma alegria despertada
A golpe de urgência.
Debatia-se na vidraça de meus olhos.
Mantinha-se pulsando,
No mesmo compasso vivo,
Deixando-me fisgada e sem fôlego.
Tinha que lhe dar um nome,
Mas que nome daria ao
Esplendor da vida!
Vaqueiro de Luz


Vaqueiro das estrelas
que cavalga a imensidão,
ligeiro joga o laço
que me levanta do chão.
Galopa com firmeza
pros meus braços meu amor,
Vem me fazer feliz,
vem num raio de luz.
No seu cavalo baio
Que faísca pelo prado
Vem com estrela guia
Dizendo que é meu amado.
Eu fico na espera
Segurando o coração.
Só com o meu peão
Eu galopo o sertão.

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