quarta-feira, 19 de outubro de 2011


Historia dos Bordados

Um bordado é uma forma de criar à mão ou à máquina desenhos e figuras ornamentais em um tecido, utilizando para este fim diversos tipos de ferramentas como agulhas, fios de algodão, de seda, de lã, de linho, de metal, de maneira que os fios utilizados formem o desenho desejado.
No que se refere especificamente à atividade artesanal, a maior concentração de tipos de bordados se encontra na região nordeste do Brasil. No Ceará, por exemplo, os bordados são provenientes de artesãos de todo o estado, e ficaram conhecidos por sua beleza e sua arte peculiar. Através dos tipos de bordados denotam-se traços característicos regionais de seus habitantes, aspectos inerentes à cultura e história.
O bordado, executado sobre o tecido com agulha e linha, difere da renda porque esta não é aplicada sobre fundo já existente: ela mesma é um tecido de malhas abertas e com textura delicada, cujos fios se entrelaçam formando um desenho. Já as rendas mais famosas são as de bilros. Tanto com o bordado, quanto com as rendas, são confeccionados artigos de cama e mesa e peças de vestuário.
No estado de São Paulo, a cidade de Ibitinga é conhecida por projetos e atividades comerciais baseadas em bordados. Todos os anos nesta cidade realiza-se tradicional Feira do Bordado, o que desperta a curiosidade de turistas vindos de diferentes regiões do país.
De acordo com informações obtidas da revista Ponto Cruz Manequim3 os registros históricos do ponto cruz coincidem com a pré-história. No tempo em que os homens moravam em cavernas, o ponto cruz servia para costurar as vestimentas, feitas de pele de animal. Eles usavam agulha de osso e, no lugar de linhas, tripas de animais ou fibras vegetais. Fragmentos de linho datam de 5000 a.C.; retirados de túmulos egípcios em escavaçõesarqueológicas, revelaram que o ponto cruz era usado para cerzir peças de tecido.
Na Antigüidade, os romanos descreviam o bordado como a “pintura de uma agulha”, mas foram os babilônicos que batizaram esta técnica. Existem controvérsias sobre a origem do ponto cruz, da forma como é utilizado hoje. Há quem acredite que ele tenha surgido na China e depois levado para a Europa.
No século XVIII diversas pessoas de diferentes posições sociais faziam o ponto cruz e nesta época surgiram os mostruários, a fim de facilitar a escolha dos motivos das cores.
Em termos do que era criado em ponto cruz, são exemplos as letras do alfabeto, borboletas, flores, casas, bordas floridas e as famosas amostras. Nos motivos, aparecia ou a assinatura de quem realizava o trabalho, a data e, às vezes até mesmo, a idade da bordadeira.
Desde a Idade Média até os dias atuais o prestígio do ponto cruz nunca diminuiu. Os motivos ganharam novas inspirações e muita vitalidade, levando os trabalhos às possibilidades de enriquecer a decoração, dar ares à criatividade e também valorizar a habilidade manual.
A seguir, mencionam-se as principais técnicas de bordado:
Hardanger: elaborado com pequenos vazados, quadrados e formas geométricas, o hardanger segue a trama do tecido. É trabalhado com quatro fios, tanto na vertical quanto bordados e rendas para cama, mesa, banho e casa 13 na horizontal. Caseado, ponto de cetim, ponto de cabo, ilhós, enchimento com fios cruzados e barras tecidas são alguns dos pontos usados nesta técnica;
Ajour: a expressão francesa a jour significa “claridade” ou “aquilo que deixa passar a luz”. Por meio de pontos específicos, o bordado introduz aberturas e orifícios no tecido que criarão desenhos de diferentes tipos. Cada país ou região acabou por criar seus próprios desenhos surgindo, assim, o a jour americano, dinamarquês, norueguês e italiano. Alguns desenhos são tão complexos e sofisticados que acabam se aproximando da renda;
Pedrarias: técnica de bordado que faz uso de miçangas, vidrilhos, canutilhos, paetês, lantejoulas, pérolas e cristais. Registros arqueológicos mostram que as pessoas costumavam fazer uso das pedrarias há mais de cinco mil anos;
Assis: técnica que tem sua origem na cidade italiana de Assis. Muito utilizada na confecção de peças sacras, esta técnica é uma variação do ponto cruz. A diferença está no fundo do trabalho, que é preenchido e faz com que o desenho central apareça delineado pelos contornos;
Ponto cruz: conforme já mencionado anteriormente, primeiros trabalhos que mostram pontos semelhantes ao ponto cruz foram encontrados por pesquisadores na Ásia Central e datam de cerca de 850 a.C. Mas é no Renascimento que o ponto cruz toma a forma pela qual se tornou conhecido atualmente. A mouliné é uma das linhas mais utilizadas nesta técnica;
Blackwork: arte embasada em formas geométricas. Foi Catarina de Aragão, mulher de Henrique VIII, quem deu a este tipo de arte um caráter popular e não mais sacro como aconteceu até o século XVI. Originalmente, o bordado era feito sobre um linho branco com fios de seda pretos, entremeados com fios de ouro;
Pattern darning: culturas de todo o mundo costumavam usar esta técnica de bordado para decorar artigos de roupa e linho de família. O ponto é simples e é conhecido entre as bordadeiras por “ponto de correr”, que pode ser feito na horizontal, vertical e diagonal.

O Bordado Richelieu

O bordado Richelieu é um bordado de características tradicionais que remonta desde a idade média. Parece desconhecer-se a sua origem. Sabe-se no entanto que foi um bordado “inicialmente” muito utilizado como adorno (cabeção) pelo Sr. Cardeal Richelieu que fazia parte da corte do Rei Luís XIII de França. A designação de “Bordado de Richelieu “, segundo parece, nasceu daí. É um trabalho que carece de bastante perícia. A sua confecção (principalmente em tecido de linho) tem requisitos especiais (para a perfeição do seu acabamento). Os espaços a recortar que contornam o desenho no tecido, são depois tecidos em linha, as chamadas brides (elo de ligação entre os desenhos). Este bordado, além de ser bastante procurado/apreciado, pode ser executado, em toalhas, naperons, cortinados, camisas, colchas, quadros, etc. dando uma real beleza a qualquer ponto ou canto onde seja colocado. Como qualquer outro bordado, o trabalho em Richelieu além de obedecer aos seus desenhos padrão/característicos, está há disposição da criatividade do Artesão.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O LADO ARTESÃO DE LAMPIÃO

Pois é! Quem disse que homem não pode bordar?
Até o cangaceiro Lampião tinha o seu lado doce. Adorava desenhar, costurar e bordar os trajes que usava. A revelação está mo livro: Estrelas de Couro: A Estética do Cangaço. Um livro do historiado Frederico Pernambucano de Melo. Foram vários anos estudando os trajes típicos dos guerreiros da caatinga.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

NÃO TENHO VERGONHA DE SER NORDESTINA



Cultivado entre os cascalhos do chão seco e as cercas de aveloz que se perdem no horizonte, cresceu, forte e robusto, o meu orgulho de pertencer a esse pedaço de terra chamado Nordeste.
Sou nordestina. Nasci e me criei no coração do Cariri Paraibano, correndo de boi brabo, brincando com boneca de pano, comendo goiaba do pé e despertando com o primeiro canto do galo para; ainda com os olhos tapados de remela, desabar pro curral e esperar pacientemente, o vaqueiro encher o meu copo de leite, morninho e espumante, direto das tetas da vaca para o meu bucho.
Sou nordestina. Falo oxente, vote, e danou-se. Vige, credo, Jesus-Maria-José! Proseio mi, a língua ligeira, que engole silabas e atropela a ortoépia das palavras. O meu falar é o mais fiel retrato. Os amigos acham até engraçado e dizem sempre que eu “saí do mato, mas o mato não saiu de mim”. Não saiu mesmo! E olhe: acho que não vai sair é nunca ““!
Sou nordestina. Lambo os beiços quando me deparo com uma mesa farta, atarracada de comida. Pirão, arroz-de-festa, galinha de capoeira, feijão de arranca com toucinho, buchada, carne de sol... E mais uma ruma de comida boa, daquela que quando a gente termina de engolir o suor já está pingando nos quatro cantos. E depois ainda me sirvo de um bom pedaço de rapadura ou uma cumbuca de doce de mamão, que é pra adoçar a língua. E no outro dia, de manhãzinha, me esbaldo na coalhada, no cuscuz, na tapioca, no queijo de coalho, no bolo de mandioca, na tigela de umbuzada, na orêa de pau com café torrado em casa!
Sou nordestina. Choro quando escuto a voz de Luiz Gonzaga ecoar no teatro de minhas memórias. De suas músicas guardo as mais belas recordações. As paisagens, os bichos, os personagens, a fé e a indignação com que ele costurava as suas cantigas e que também são minhas. Também estavam (e estão) presentes em todos os meus momentos, pois foi em sua obra que se firmou a minha identidade cultural.
Sou nordestina. Me emociono quando assisto a uma procissão e observo aqueles rostos sofridos, curtidos de sol do meu povo. Tudo é belo neste ritual. A ladainha, o cheiro de incenso. Os pés descalços, o véu sobre a cabeça, o terço entre os dedos. O som dos sinos repicando na torre da igreja. A grandeza de uma fé que não se abala.
Sou nordestina. Gosto de me lascar numa farra boa, ao som de xote ou do baião. Sacolejo e me pergunto: pra quê mais instrumento nesse grupo além da sanfona, do triangulo e da zabumba? No máximo, um pandeiro ou uma rabeca. Mas dançar ao som desse trio é bom demais. E fico nesse relabucho até o dia amanhecer, sem ver o tempo passar e tampouco sentir os quartos se arriando, as canelas se tremelicando, o espinhaço se quebrando e os pés se queimando em brasa. Ô negocio bom!
Sou nordestina. Admiro e me emociono com a minha arte, com o improviso do poeta popular, com a beleza da banda de pífanos, com o colorido do pastoril, com a pegada forte do côco-de-roda, com a alegria da quadrilha junina. O artista nordestino é um herói, e nos cordéis do tempo se registra a sua história.
Sou nordestina. E não existe música mais bonita para meus ouvidos do que a tocada por São Pedro, quando ele se invoca e mete a mãozona nas zabumbas lá do céu, fazendo uma trovoada bonita que se alastra pelo Sertão, clareando o mundo e inundando de esperança o coração do matuto. A chuva é bendita.
Sou nordestina. Sou apaixonada pela minha terra, pela minha cultura, pelos meus costumes, pela minha arte, pela minha gente. Só não sou apaixonada por uma pequena parcela dessa mesma gente que se enche de poderes e promete resolver os problemas de seu povo, mentindo, enganando, ludribiando, apostando no analfabetismo de quem lhe pôs no poder, tirando proveito da seca e da miséria para continuar enchendo os próprios bolsos de dinheiro.
Mas, apesar de tudo, eu ainda sou nordestina, e tenho orgulho disso. Não me envergonho da minha história, não disfarço o meu sotaque, não escondo as minhas origens. Eu sou tudo o que escrevi, sou a dor e a alegria dessa terra. E tenho pena, muita pena, dos tantos nordestinos que vejo por aí, imitando chiados e fechando vogais, envergonhados de sua nordestinidade. Para eles, ofereço estas linhas.

Sheila Raposo-Jornalista

domingo, 22 de maio de 2011

ESCOLA MUNICIPAL CÔNEGO AMBRÓSIO SILVA
Cruzeta-RN
Uma Marca é determinada por um nome escrito, uma palavra com certo significado, uma imagem que a simbolize e até mesmo por um desenho, mas também pode beneficiar-se de todos estes atributos, que deve identificar os bens ou serviços de uma instituição, empresa ou grupo, tendo em sua essência a identificação imediata para um público beneficiário. A Marca é, ainda, percebida como a promessa de divulgação e de conhecimento publicitário de qualquer órgão, público ou privado, facilitando sua imagem para os que a vêem.


FORMA POLICROMÁTICA

A Marca da Escola Municipal Cônego Ambrósio Silva, reproduz uma preocupação com a educação e sua prática no interior da escola, estando simbolizada por um livro e um lápis. Tem por sustentáculo três faixas nas cores da Bandeira do Município, representando os Três Rios que deram origem ao nome da cidade: Rio Salgado, Rio do Meio e o Rio Quimporó. A esfera em volta dos elementos simboliza os limites do município.
SIMBOLOGIA: A marca foi uma criação do Artista Plástico Profº Ronaldo Macêdo, no ano de 1997, ano de municipalização da escola (antiga CNEC), que se inspirou na formação dos rios que deram origem a cidade de Cruzeta, devidamente colorido com as cores da bandeira do município. O livro e o lápis fazem uma analogia a educação cruzetense e suas práticas pedagógicas dentro e fora da escola, objetivando a cidadania de seus alunos e profissionais envolvidos nesta prática.



ESCOLA MUNICIPAL ANA ASSIS DE MEDEIROS
Cruzeta-RN

Uma Marca é determinada por um nome escrito, uma palavra com certo significado, uma imagem que a simbolize e até mesmo por um desenho, mas também pode beneficiar-se de todos estes atributos, que deve identificar os bens ou serviços de uma instituição, empresa ou grupo, tendo em sua essência a identificação imediata para um público beneficiário. A Marca é, ainda, percebida como a promessa de divulgação e de conhecimento publicitário de qualquer órgão, público ou privado, facilitando sua imagem para os que a vêem.

FORMA POLICROMÁTICA


A Marca da Escola Municipal Ana Assis de Medeiros, reproduz uma referência de conquista para a população do Conjunto Habitacional (COHAB). Tem por sustentáculo o mapa do município de Cruzeta, entrelaçada por três faixas nas cores da Bandeira do Município, representando os Três Rios que deram origem ao nome da cidade: Rio Salgado, Rio do Meio e o Rio Quimporó.

SIMBOLOGIA: A marca foi uma criação do Artista Plástico Profº Ronaldo Macêdo, no ano de 1995, ano de inauguração da escola que se inspirou na formação dos rios que deram origem a cidade de Cruzeta, devidamente colorido com as cores da bandeira do município. O mapa, vazado, se preenche de forma a simbolizar os esforços dos seus educadores, adornando de conhecimentos os discentes que lutaram e conquistaram um espaço educacional dentro da comunidade.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

DESCENDÊNCIA ESCRAVISTA EM CRUZETA?

O fato relatado, a respeito da existência de escravos negros no município de Cruzeta, transcende entre o real e o imaginário, não sabendo se realmente o fato ocorrido é verdadeiro. Mas, segundo historiadores seridoenses... (A. Guerra/ L. Aciole/ R. Macêdo).

”Numa grande seca do século XVIII, Antônio Paes de Bulhões, do Acari, viajou com imenso sacrifício até a Vila de Camaratuba no vizinho Estado da Paraíba, atualmente BARRA DO CAMARATUBA, último distrito do Estado da Paraíba, pertencente ao município de Mataraca-PB,
a aproximadamente 105 km. da cidade de João Pessoa/PB, está localizada entre a reserva dos índios potiguaras e a foz do Rio Guaju, que demarca a fronteira entre os Estados da Paraíba e do
Rio Grande do Norte. É a ultima praia do litoral paraibano, ao norte.
Um dos objetivos do Sr. Antônio Paes de Bulhões, (um dos desbravadores do Seridó), era comprar farinha, alimento básico da época. Mas não encontrou quem vendesse. Um escravo, todavia, sabedor do fato, cedeu-lhe parte de sua produção e não quis receber pagamento.
Passada a seca, Antônio Pais de Bulhões retornou a Camaratuba, e em troca do favor, pagou a carta de alforria para seu amigo escravo, trazendo-o para o sertão do Seridó e deu-lhe, no rio São José (onde repousa a bacia do açude Cruzeta), um pedaço de terra, uma modesta casa e semente de gado. Este ex-escravo chamava-se Feliciano José da Rocha, e veio a ser próspero fazendeiro, conhecido posteriormente como Capitão Feliciano.
Em outro ano de seca, o Sr. Antônio esforçava-se para salvar seu rebanho, e o do seu amigo, da fome e da sede. Começou a cavar cacimbas no leito seco do rio: se não encontrasse água, seria uma calamidade; se encontrasse, teria o remédio. Encontrou. Daí, a origem do nome Fazenda Remédio. “Aquelas areias secas, tão escavadas com esperança, está hoje permanentemente molhadas pela água do açude público de Cruzeta e, nas terras da fazenda, está assentada hoje uma cidade sob a invocação de N. S. dos Remédios.”
Apesar dos esforços de alguns historiadores, não se sabe o que aconteceu com o ex-escravo, quando da sua vivência nas terras seridoenses, quando dos seus parentes e de sua morte. Fica no ar a incógnita histórica da existência de escravos e senzalas no município cruzetense, tendo em vista que Cruzeta data de 1920, enquanto a abolição da escravatura ocorreu em 13 de maio de 1888 com a assinatura da Lei Áurea.

sábado, 7 de maio de 2011

A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL COMO PRÁTICA DE ENSINO DE HISTÓRIA LOCAL
 Uma experiência no município de Cruzeta/RN


Para melhor elucidar o tema deste texto, inicio minhas reflexões trazendo para o cerne da discussão duas premissas importantes destacadas por Selva Guimarães e que aparentemente podem parecer óbvias para os profissionais de ensino de história. A primeira delas é que a história é uma “disciplina fundamentalmente educativa, formativa, emancipadora e libertadora” já que esta “tem como papel central a formação de identidades, a elucidação do vivido, a intervenção social e praxes individual e coletiva”. A segunda é que exercer a docência em história “é ter consciência de que o debate sobre o significado de ensinar história processa-se, sempre, no interior de lutas políticas e culturais”. (FONSECA, 2003. p. 89)
As proposições assinaladas acima servem bem para ilustrar o campo de atuação do ensino de história e suas imbricadas relações com a prática da Educação Patrimonial. Se o ensino de história pressupõe a constituição de identidades, a compreensão do passado, a interferência no plano social e pessoal dos indivíduos forjado na urdidura ideológica de interesses desarmônicos, em que circunstancia se pode falar de Educação Patrimonial como prática de ensino de história local? Para melhor situar o problema, torna-se necessário expor a finalidade a que se propõe o ensino de história local.
Para Circe Bittencuort “a história local tem sido indicada como necessária para o ensino por possibilitar a compreensão do entorno do aluno, identificando o passado sempre presente nos vários espaços de convivência – escola, casa, comunidade, trabalho e lazer -, e igualmente por situar os problemas significativos da história do presente”. [Grifos nossos] (BITTENCOUORT, 2009. p. 168)
Entendido, desse modo, como um caminho para se fazer apreender o “entorno do aluno”, isto é, o meio social em que este está inserido por meio da percepção das permanências e continuidades do passado no tempo presente, a história local tem como matéria-prima principal a investigação da memória e as configurações de identidades. Desse modo, “a questão da memória impõe-se por ser a base da identidade, e é pela memória que se chega à história local” (Idem, 2009. p. 169)


Estudantes em visita ao Centro Histórico de Cruzeta/RN durante oficina de Educação Patrimonial

Mas ao se trabalhar com a história local tem-se que atentar-se para alguns perigos que isto pode incorrer. Primeiramente a história local não pode contentar-se em reproduzir simplesmente “a história do poder local e das classes dominantes” que se limita a fazer conhecer “nomes de personagens políticos de outras épocas, destacando a vida e obra de antigos prefeitos e demais autoridades” (Ibdem). Segundo é que ela não deve pautar-se na “fragmentação rígida dos espaços e temas estudados, não possibilitando que os alunos estabeleçam relações entre os vários níveis e dimensões históricas do tema” inviabilizando a construção de relações entre o contexto local, o nacional e o global (FONSECA, 2003. p.154). Outra é que a história local não pode ser vista apenas como um “espaço reservado ao estudo dos chamados aspectos políticos” e econômicos que geralmente se utiliza dos vultos ilustres locais para se dar conta da origem, evolução e progresso do município ou região. (Idem) E mais ainda que esta não deve ser utilizada como pressuposto fidedigno para justificar uma “naturalização” e “ideologização” da vida social e política que sirva “para mascarar a divisão social, a luta de classes e as relações de poder e dominação que permeiam os grupos sociais”. (Ibdem)
Visto de outro modo, a história local deve vir sempre vinculada “à história do cotidiano ao fazer das pessoas comuns participantes de uma história aparentemente desprovida de importância e estabelecer relações entre os grupos sociais de condições diversas que participaram de entre-cruzamentos de histórias, tanto no presente como no passado”. (BITTENCUORT, 2009. p. 168) É nesta urdidura das relações sociais e das múltiplas possibilidades de se compreender as experiências do vivido e suas nuanças no tempo presente onde se inscreve o valor do patrimônio histórico-cultural e portanto, lugar comum dos elementos constituintes do discurso teórico-metodológico utilizados pela Educação Patrimonial hoje.



Cena do cotidiano de Cruzeta cristalizada numa fotografia tirada no início da década de 1970

A relação mais fecunda e propícia entre ensino de história e Educação Patrimonial é que a segunda pode servir como metodologia apropriada para se chegar à compreensão do passado e forjar no aluno os sentimentos de pertencimento ao seu lugar a partir da utilização de procedimentos capazes de estabelecer relações identitárias entre este e a história local através da construção de saberes a cerca de seu patrimônio histórico-cultural. É neste sentido que Oliveira elucida a importância do patrimônio histórico como “uma produção cultural [que] encerra em si características que favorecem, facilitam a relação de ensino/aprendizagem por parte de quem o utiliza, por parte daqueles que o usam como fonte documental para a obtenção de conhecimento a respeito de uma determinada época, de determinadas condições socioeconômicas de produção de determinado bem, das relações de poder que demonstram que tal imóvel, por pertencer a uma determinada parcela mais abastada da sociedade, então, foi construído com material de melhor qualidade, pode explicar continuidades e mudanças ocorridas em determinados locais, entre várias outras potencialidades que estes documentos apresentam”. (OLIVEIRA, 2008. p. 98)
Mas o que vem a ser mesmo a Educação Patrimonial e qual sua finalidade? Segundo o Guia Básico de Educação Patrimonial lançado em 1999 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) a Educação patrimonial trata-se de “um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. Busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural”. (GUIA BÁSICO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL, 1999, p.7). “A Educação Patrimonial, portanto, pretende resgatar a relação de afeto entre a comunidade e seus patrimônios, estabelecendo entre eles um processo de aproximação, fazendo com que a comunidade tenha um sentimento de pertencimento em relação a seus bens patrimoniais, desejando, assim, seu regate e preservação”. (PIZANI, apud. SOARES, 2008. p.32)
Enquanto ação educativa, a Educação Patrimonial se fundamenta em quatro etapas metodológicas contínuas: a Observação que se baseia em exercícios de percepção visual e sensorial com o objetivo de identificação do objeto de estudo, sua função e significado,o Registro que busca desenvolver atividades de registro das percepções efetuadas por diversas maneiras possíveis (fotografias, desenhos, entrevistas, vídeos, maquetes e etc.) com a finalidade de fixação do conhecimento percebido, sua análise crítica e o desenvolvimento da memória e do pensamento intuitivo e operacional; a Exploração que consiste na análise do problema, no levantamento de hipóteses, pesquisa em outras fontes (arquivos, bibliotecas, jornais, entrevistas), postura crítica e etc., e por último a Apropriação que busca desenvolver a capacidade de auto-expressão, participação criativa e valorização do bem cultural através de recriações, releituras ou dramatizações deste propiciando um envolvimento afetivo e a internalização dos saberes apreendidos.
Em vista disto, a apropriação da metodologia da Educação Patrimonial pelo ensino de história “não busca apenas estimular a conservação física de lugares históricos, como prédios públicos, monumentos, praças, bens naturais, entre outros, [mas] busca também resgatar a memória e os valores que levaram a comunidade a reconhecer aquele personagem, objeto ou prédio histórico como patrimônios de uma coletividade” (PIZANI, apud. SOARES, 2008. p.32) a medida que esta vai possibilitando caminhos de se apreender e interpretar o passado, isto é, de tornar a história local inteligível a partir do conhecimento e da apropriação do patrimônio histórico-cultural do lugar. Neste ponto é importante citar ainda os “lugares da memória” como locais apropriados para se “encontrar os esquecimentos, os lapsos de memória, não circunstanciais, mas obrigatórios, que abrigam determinadas posições e, mais uma vez, encobrem variadas disputas”. (OLIVEIRA IN OLIVEIRA E CAIMELLI, 2008. p. 98)

O PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL
COMO DOCUMENTO PARA O ENSINO DE HISTÓRIA

Como todo profissional de história sabe, “o documento é a base para o julgamento histórico” (KARNAL E TATSCH, 2004. p.41). Isso é verdade por que se todos os documentos produzidos por um determinado período histórico fossem destruídos, nenhum historiador poderia dizer nada sobre ele. O mesmo acontece com uma civilização que nada deixou de vestígios. Assim, segundo Silva “fonte histórica, documento, registro, vestígio são todos termos correlatos para definir tudo aquilo produzido pela humanidade no tempo e no espaço [ou ainda] a herança material e imaterial deixada pelos antepassados que serve de base para a construção do conhecimento histórico”. (SILVA, 2008. p. 158)
É nesta vasta conceituação de documento onde o patrimônio histórico cultural se insere. Definido corriqueiramente “como o complexo de monumentos, conjuntos arquitetônicos, sítios arqueológicos e parques nacionais de determinado país ou região que possui valor histórico e artístico e compõem um determinado entorno ambiental de valor patrimonial” (Idem, 2008. p. 324), o patrimônio cultural, como atualmente costuma ser mais chamado, não se refere apenas a “um conjunto selecionado de objetos históricos, monumentos representativos da memória nacional, centros históricos, etc., mas também os saberes populares, os artesanatos, as crenças e as tradições, os rituais e festas religiosas, os processos de trabalho e produção, as relações sociais, familiares e com o meio ambiente, as formas de organização econômica, política e tecnológica e, ainda, todos os aspectos que a cultura viva da população pode assumir e criar” (GRUNBERG IN BARRETO. 2008. p.37-38), ou seja, “não se restringe á produção material humana, mas abrange também a produção emocional e intelectual. [Resumindo] (...), tudo o que permite ao homem conhecer a si mesmo e ao mundo que o rodeia pode ser chamado de bem cultural”. (SILVA, 2008. p. 325)


Aspecto atual do Centro Histórico de Cruzeta

Visto desta forma, o patrimônio histórico cultural é uma importante lente por onde se torna exequível vislumbrar as acepções de passado e as apreensões de futuro de um determinado grupo ou sociedade. Isto é possível porque este é composto por elementos produzidos num determinado contexto sócio-cultural como parte integrante do processo histórico vivenciado pelos grupos e sociedades situados cada qual em seus espaços e esferas dinâmicas de influxos e afluências ao longo de sua história e que por um motivo ou outro mereceram ser preservados às gerações seguintes. Assim, ao se constituir em elementos históricos e geograficamente situados e revestidos de uma “áurea sacralizante” pelos indivíduos ou grupos sociais que o elegeram, ele acaba por atribuir sentidos e valores a estes lugares ao mesmo tempo em que os representam e os definem, moldando-os de características próprias e atribuindo a estes uma identidade comum ainda que não menos conflitante.
A força desta prerrogativa está no fato de que o patrimônio histórico não possui valor em si mesmo e sim se compreende como parte de um processo histórico de produção cultural movido por interesses múltiplos e divergentes seja em escala nacional ou local. Como observa Moura, “feito para lembrar ou consagrado a posteriori como tal, interfere na dialética da memória á medida que dita o que deve ser lembrado, sendo, pois, expressão da memória de um grupo (...) Assim, compreender o processo histórico de produção do patrimônio significa entender como determinados valores se sobrepuseram a outros, entender por que alguns bens foram institucionalizados e outros não (...)”. (MOURA, 2009. p. 56)
Este elemento polissêmico do patrimônio é importante para o ensino de história porque permite a apreensão dos múltiplos valores e significados que cada grupo social ou indivíduo atribui a este tornando possível a interpretação e a depreensão da indiosincrasia individual a medida que cada pessoa tece suas relações próprias e coletivas com estes bens culturais permitindo, com isto, a percepção de memórias heterogênicas e diferenciadas. Sendo assim, o ensino da história local a partir do estudo do patrimônio histórico-cultural deve acentar-se nas diversas memórias disseminadas nos mais diferenciados sujeitos sociais para que se possa apreender delas as diversas versões e olhares que a experiência histórica local se fundamenta e se constitui, não devendo, sob pena de cair na homogeneidade histórica concebida pela concepção oficial de memória e história e tão cara às gerações de nossos pais, está alicerçada na visão dominante de apenas um segmento da sociedade ou de determinados indivíduos que tomaram para si a alcunha de “autênticos repositórios” da memória social.


Aspecto dos antigos carnavais de Rua em desfile no Centro Histórico de Cruzeta. Foto tirada no início de 1960

Assim como complementa Gonçalves “os patrimônios culturais são estratégias por meio das quais grupos sociais e indivíduos narram sua memória e sua identidade, buscando para elas um lugar público de reconhecimento, na medida mesmo em que as transformam em ‘patrimônio’. Transformar objetos, estruturas arquitetônicas e estruturas urbanístísticas em patrimônio cultural significa atribuir-lhes uma função de ‘representação’, que funda a memória e a identidade. (...) Os patrimônios são, assim, instrumentos de constituição de subjetividades individuais e coletivas, um recurso à disposição de grupos sociais e seus representantes em sua luta por reconhecimento social e político no espaço público”. (GONÇALVES, 2002. p.121-122)

Mas, a mais profícua relação que podemos estabelecer entre o patrimônio, a memória e a didática da história, é que tanto o patrimônio que insubsiste sem seu significado para a memória social, quanto a memória que se utiliza do patrimônio para se expressar, podem ser utilizados como documentos para o ensino de história. Sobre isto é que reflete Oliveira: “os monumentos são documentos e, portanto, passíveis de leituras, assim como os documentos não são portadores da verdade, ou representam a verdade pura e simplesmente. São constructos com uma função bem definida, portadores de uma concepção de memória e de história, muitas vezes criados para se fazerem únicos na identificação de uma memória e uma história oficial. O papel do historiador e do educador como agente revelador dessas operações é fazer aflorar e compreender estas construções, estas memórias e histórias (as vencidas, a dos excluídos, etc), não simplesmente num processo de troca pela memória/história oficial, mas num processo de esclarecimento”. (OLIVEIRA IN OLIVEIRA E CAIMELLI, 2008. p. 97)


Clube de Mães do Município de Cruzeta. Fotografia tirada na década de 1960. O trabalho doméstico feminino esconde em sua tessitura um espaço reservado pelas sociedades Ocidentais ás mulheres

Desse modo, ao perceber o patrimônio histórico cultural como uma fonte documental por onde o passado pode se tornar inteligível, tem-se que levar em consideração as concepções de memória e de história que este encerra, já que nenhum documento histórico está isento de imparcialidade, ou seja, não possui estatuto de “histórico” em si mesmo, representando, portanto, as reminiscências de determinado grupo social ou de indivíduos que se convencionou preservar pela história.

AS OFICINAS DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E SEUS DIÁLOGOS COM A HISTÓRIA LOCAL: A EXPERIÊNCIA NO MUNICÍPIO DE CRUZETA/RN

A idéia de realizar oficinas de educação patrimonial como prática sensibilizadora de ensino para alunos de nível fundamental e médio do município de Cruzeta partiu de uma observação empírica e de um olhar perscrutador sobre a situação da consciência histórica e da identidade cultural que grande parte dos alunos da rede pública de ensino estabeleciam com o próprio lugar onde vivem. Esta visão do local se edifica quase sempre no sentimento de que o espaço onde habitam não possui “história” e que, portanto, quase nada restou do seu passado.
O cerne desta visão torna-se bastante preocupante, pois ela mesma sustenta a idéia de que “se não há história para contar, também não há o que se preservar”. Esta compreensão do passado demonstra a atitude de indiferença e apatia que muitas pessoas do local têm se portado diante da sua herança cultural, e de forma mais acentuada ainda, diante da defesa e preservação do patrimônio histórico cultural cruzetense, já que os vínculos de afetividade com o local onde vivem são também afetados por estes sintomas sociais que os fragilizam.
Uma explicação para este problema podemos encontrar na supervalorização que o ensino formal de história atribui à história nacional e global em detrimento da história local, quase nunca contemplada no planejamento anual dos conteúdos históricos das instituições públicas e privadas de ensino fundamental e médio no Brasil. A isso, soma-se ainda, os escassos projetos de extensão e os irrisórios recursos empregados em ações pedagógicas que visem desenvolver iniciativas educativas a partir do ensino da história local e da preservação do patrimônio histórico cultural de cada comunidade. No município de Cruzeta/RN esta realidade não é diferente, ainda que existam professores que mesmo se valendo dos poucos recursos disponíveis para viabilizarem suas atividades de extensão e utilizando-se de todo esforço possível, conseguem obter algum resultado satisfatório através de suas ações pedagógicas. Mas estas são, porém, mínimas e quase sempre nunca continuadas.
Um outro aspecto preocupante deste problema tem sido o contínuo descaso com o que o poder público tem se portado diante do patrimônio histórico cultural do município, não se munindo de qualquer instrumento legal que concorra à preservação e promoção de seus bens culturais, expondo-os, grosso modo, ao desgaste e a depauperação do tempo. A Lei Orgânica do município de Cruzeta promulgada em março de 1990 chega mesmo a prescrever como sendo da competência municipal a promoção e a proteção do “patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico local” (LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE CRUZETA, 1990. Cap. II. Art. 5º. In. IX) e ainda atribui à Câmara Municipal o estatuto de legislar sobre assuntos de interesse local, inclusive aqueles que diz respeito à “proteção de documentos, obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, como os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos do Município” e mais ainda de “impedir a evasão, destruição e descaracterização de obras de arte e outros bens de valor histórico, artístico e cultural” do local. (Idem, Cap. II. Sec. III. Art. 11. In.I. Al. b e c).
No entanto, a verdade sobre isto, é que nada até hoje foi feito por parte do poder público local que garanta a observação e execução do que pede a Lei Orgãnica Municipal no que diz respeito às questões do patrimônio histórico cultural do município, sendo portanto, negligenciadas pelas autoridades locais que insistem em calar-se diante desta questão e assitir impacíveis a ininterrupta destruição e descaracterização de nosso patrimônio histórico e as vezes até tornando-se mentores de sua própria destruição: ninguém pode esquecer quem foram os verdadeiros responsáveis pela “reforma” do prédio da Câmara Municipal, uma das únicas edificações públicas que conservava ainda até os meados da década passada parte da decoração de sua antiga faixada que resultou em sua total descaracterização.


Faixada da Câmara Municipal de Cruzeta antes da "reforma"

Diante destas atitudes no mínimo agressivas e desrespeitosas ao patrimônio histórico municipal revide-se com uma pergunta pertinente que cabe ser feita aqui: onde fica a observação da Lei Orgânica Municipal no que rege os assuntos de interesse local voltados às questões do patrimônio cultural cruzetense? Algum dia, alguém terá que responder a isto. Mas não nos cabe neste texto prestar queixas das irresponsabilidades do poder público. Entretanto, é nosso dever, enquanto cidadãos cruzetenses, conscientizar a população local para o seu exercício de cidadania que tem na defesa, preservação e apropriação de seus bens culturais uma baliza fundamental dos direitos do cidadão brasieliro.
Foi sem dúvidas em vista desta finalidade mais abrangente que executamos entre os dias 13 e 18 de Setembro de 2010 no município de Cruzeta o projeto Patrimônio, memória e Educação: descobrindo nossos tesouros de identidade cujas as ações educativas foram realizadas por meio de oficinas de Educação Patrimonial e estudo de meio voltadas aos adolescentes e jovens estudantes locais.
Como nosso interesse neste texto é mostrar as variadas possibilidades de diálogo entre as práticas de Educação Patrimonial experienciadas e o ensino de história local, gostaríamos de começar tecendo esta discussão a partir de algumas colocações a cerca das concepções de história e memória correntes atualmente no município de Cruzeta e que tem servido como balizas para a escrita da história local.
Inicialmente podemos dizer que o conhecimento histórico se constrói a partir de uma necessidade insurgente que não deixa de ser em si mesmo um objeto de análise da história e que vem a atender a demanda de novos interesses individuais e coletivos, seja ele produto de um desdobramento acionado pelas experiências vividas no bojo das relações sociais e interpessoais, seja por uma tomada de consciência frente a uma realidade que se almeja emancipadora e transformante. Assim, ao ser publicado em 1971 o livro “Noções de Geografia e História do Município de Cruzeta” de autoria da professora Terezinha de Jesus Medeiros Goes e que ainda nos serve de referência particular para o estudo da história local, grande foi a euforia dos cruzetenses ao receber tão “ilustre obra”, o que no contexto atual não deixa de ser para muitos cruzetenses “uma obra ultrapassada”.
Ao compartilhar as concepções de história e geografia de sua época, o livro Noções de Geografia e História do Município de Cruzeta não pode ser interpretado fora de seu contexto de produção, isto é, sem atentar-se para a análise dos fatores, conjunturas e ideologias que possibilitaram a sua escrita e publicação sem incorrer no mais grave pecado dos historiadores, isto é, no erro do anacronismo histórico. Pois como elucida Silva “o ato de contar, descrever e analisar o passado depende da sociedade e do período de cada contador. Tudo na história deve ser pensado em seu tempo, isto é a historicidade”. (SILVA, 2008. p. 183) Reconhecido ainda como a obra mestra que narra a história oficial do município de Cruzeta, o livro da professora Terezinha Medeiros Goes representa um importante documento de nossa história, constituindo-se, desse modo, uma versão da história local que nos últimos anos tem sido questionada por outros pesquisadores.
Esta reflexão ajuda a entender aquilo que podemos chamar de um “surto revisionista” na história do município de Cruzeta/RN, que tem mobilizado nos últimos anos esforços de professores e alunos da rede pública municipal de ensino na busca da reconstrução de um passado silenciado pela história oficial, ou seja, das memórias e vivências daqueles sujeitos históricos “que não se encontram nos livros que enaltecem os vultos, mas que consideram como produtores de história quem realmente o é: o povo”. [Grifos nossos] (COSTA & ZEFERINO, 2008. p. 13)


Foto de uma sapataria localizada no centro urbano de Cruzeta na década de 1960. Com o entendimento de que "os homens comuns" também fizeram história, outros personagens antes considerados "incógnitos" começam a aparecer na trama da história local nos últimos anos

Esta nova “áurea de reconstrução da história local” no município de Cruzeta/RN pode ser percebida como um desdobramento de um projeto político ideológico mais amplo vivenciado pela sociedade brasileira a partir dos anos 1980 que se firma nos ideais de sociedade democrática e plural forjando a tessitura da emergência de se fazer ouvir “as vozes” daqueles sujeitos sociais que foram marginalizados ou “silenciados” pela história oficial fundamentada nos feitos dos “grandes vultos”, quase sempre pertencentes e identificados a uma elite político-econômica local dominante.
O efeito disto tem sido a publicação de novos trabalhos demonstrativos de práticas pedagógicas ou de pesquisas in loco que se insinuam na valorização da memória social e que buscam lançar “um novo olhar” sobre o entendimento da história local seja resgatando das “lembranças dos nossos avós” a matéria-prima para a reconstrução desta história, como a iniciativa do livro Cruzeta, uma cidade repleta de memórias e poesias elaborado por professores e alunos da Escola Estadual Joaquim José de Medeiros no ano de 2008, seja através da apropriação de novas versões e múltiplos olhares “que se debruçam sobre a gênese de fatos, de sabedorias explícitas e implícitas de cruzetenses (...) [para retratar] ocorrências plurais e oferecer-nos subsídios valiosos que enriquecem os nossos saberes sobre a história de um povo de tanto mistério” (MEDEIROS, 2010. p. 09), caso muito particular do livro Coletânea de entrevistas: espelho da história e cultura cruzetense publicado por professores e alunos da Escola Municipal Cônego Ambrósio Silva em novembro de 2010, ou ainda se valendo das “memórias narradas” de “nossos conterrâneos” que resgatam “fatos pitorescos de Cruzeta, através do relato de casos interessantes e autênticos, que revelam o caráter nobre e irreverente do legítimo sertanejo”, (AZEVEDO, 2009. p. 07) caso bastante específico do livro Fatos pitorescos de Cruzeta, lançado em Outubro de 2009 pelo professor e historiador cruzetense Walclei de Araújo Azevedo.
As questões levantadas acima nos servem para apontar um outro mote que talvez possa parecer implícito, isto é, a função a que se atribui à história. Percebida como indissociada da memória, a função geral da história nas obras citadas acima é situar as experiências de vidas dos sujeitos sociais nos mais variados contextos e épocas em que estes viveram, valorizando o ato de lembrar o passado como elemento instituinte da história. Para Silva a função da História quanto ciência dos Homens no tempo, para se utilizar da definição do historiador Marc Bloch, “é fornecer explicações para as sociedades humanas, sobre suas origens e as transformações pelas quais estas passam. Essas explicações, por mais diversas que sejam, são feitas sempre sobre uma base comum, o tempo, a temporalidade” (SILVA, 2008. p. 183-184).
A função à que se presta a história, tal como a entende Silva e a importância da memória como elemento instituinte do vivido, visão de história mais difundida no município de Cruzeta, nos são válidos para demonstrar os possíveis diálogos que podemos estabelecer entre as práticas de Educação Patrimonial e o ensino da história local a partir da utilização do Patrimônio Histórico Cultural como meio de se compreender o passado. Para melhor ilustrar estas possibilidades é que tomaremos como exemplo a experiência vivenciada no Centro Histórico de Cruzeta durante as oficinas de Educação patrimonial.
Planejadas para serem executadas em quatro momentos distintos, as oficinas de Educação Patrimonial foram realizadas em uma semana de atividades. O primeiro momento foi vivenciado com a realização de palestras, alem de outras atividades lúdicas, que envolveram temas voltados às questões da cultura, da identidade, do patrimônio cultural no âmbito local e nacional, das políticas de preservação e conservação deste no Brasil e da metodologia da Educação patrimonial que fundamentaram todo o instrumental teórico utilizado durante as oficinas para a aplicação em campo das atividades de pesquisa e estudo. Já o segundo momento foi executado com a aplicação da metodologia da Educação Patrimonial e a realização da pesquisa e registro do Patrimônio Cultural no Centro Histórico de Cruzeta, ocasião que será mais explorada neste texto. A etapa seguinte foi vivenciada pelos participantes por meio da socialização e apresentação dos resultados das pesquisas realizadas na experiência passada e, por último, tivemos a realização de uma viajem de estudo (city tuor) a alguns lugares importantes para a compreensão da história e cultura da região do Seridó potiguar, momento em que foram visitados o Parque multitemático da Mina Brejuí e o museu que este integra, ambos localizados na cidade de Currais Novos e ainda o Museu do Sertanejo e a Igreja Barroca do Rosário, situados no município de Acari. Mas é em sobremaneira a segunda etapa destas atividades que nos interessa neste texto.
Partindo da análise feita por Horta que considera os Centros históricos como lugares importantes para se estudar e entender a história local “porque ajudam a estabelecer e compreender as relações fundamentais entre o presente, o passado, e as mudanças ocorridas nos modos de vida das pessoas que neles viveram, assim como nas próprias cidades”, (HORTA, 1999. p. 26), durante a execução do projeto educativo foi realizado de antemão um mapeamento prévio das principais evidências materiais e históricas possíveis de serem constatadas no Centro Histórico de Cruzeta, isto é, monumentos, edificações e construções que conservavam ainda integralmente ou parte de sua arquitetura original e logo em seguida elaborado um mapa demarcando as áreas do entorno circunscrito. Além destes elementos, também foram identificadas evidências da cultura imaterial que se manifestam no cotidiano ou nas ocasiões festivas e/ou de lazer da população local que possui o Centro Histórico como cenário principal de sua ocorrência. Ainda para facilitar o trabalho em campo dos alunos participantes do projeto, foram elaborados e distribuídos materiais de apoio que servissem como instrumentos didáticos de pesquisa.
Assim, seguindo uma sistemática própria, foram constituídos dois grandes grupos de 20 pesquisadores perfazendo o total de 40 ao todo, e estes, por sua vez, subdivididos em dois menores compostos por 10 alunos cada qual. Para melhor estruturar os trabalhos a serem realizadas passamos a atribuir nomes e tarefas a cada um deles. Desse modo, o Grupo denominado A se dividiria em duas zonas e pesquisaria as evidências da cultura imaterial identificadas no Centro Histórico e, do mesmo modo ocorreria ao Grupo B, que teria o conjunto subdivido em duas zonas, mas que pesquisaria o Sítio Histórico como um todo.



Mapa elaborado para servir de orientação aos estudantes pesquisadores

Também é Horta quem nos fornece uma melhor definição de Sítio ou Monumento Histórico, apresentando-os como “fragmentos do cenário do passado, elementos de uma paisagem que sofreu modificação ao longo do tempo, e funcionam como chaves para a reconstituição das sucessivas camadas da ocupação humana e dos remanescentes que chegaram até nós”. (HORTA, 1999. p.17). O estudo e apropriada exploração destes remanescentes materiais nos revela um precioso meio de se compreender o passado a partir do contato direto, da observação e de sua análise crítica. Neste ponto é importante elucidar as orientações propostas pela metodologia da Educação Patrimonial no que aludi às suas etapas e recursos empregados. Destarte, para servir de orientação didática para o estudo de campo realizado durante as visitas ao Centro Histórico de Cruzeta, foram confeccionadas três fichas básicas de apoio, quais sejam:

· a Ficha de Identificação do Edifício com o objetivo de orientar o pesquisador na retenção de informações a cerca de antigos edifícios e construções no que diz respeito as suas características gerais, tais como, usos, estado de conservação, ocupação, primeiros moradores, período de construção, importância para a comunidade e diagnóstico geral do imóvel;

· a Ficha de Identificação do Sítio Histórico com a finalidade de instruir a cerca da descrição geral do Centro Histórico pesquisado em observação aos aspectos como localização, paisagem natural, meio ambiente, marcos edificados, características físicas, funções, usos e significados do local atualmente (Para que foi construído? Para que serve? E qual(s) o seu significado(s) para a comunidade?), além de fatores como a história e o perfil socioeconômico de seus habitantes;

· e por último, a Ficha Explorando o Sítio Histórico com o intuito de instigar as percepções e análises críticas dos alunos pesquisadores sobre a história do Sítio Histórico pesquisado propondo questões como a descrição dos antigos habitantes da área (personagens da história mais conhecidos e também os “anônimos”), suas formas de trabalho, ocupações, comportamentos e origens para responder a questão “quem viveu aqui?”, assim também como outros questionamentos que buscavam explorar as razões históricas que contribuíram para a ocupação do lugar (“Por que escolheram viver neste lugar?”), os diferentes usos deste espaço pela população local (“Para que foi usado este local?”), seus aspectos físicos no passado (“Como era este lugar no passado?”), a vida cotidiana de seus habitantes em outras épocas (“Como era viver aqui no passado?”), as transformações sofridas em decorrência de seu processo histórico e etc.

A utilização do material didático de apoio é um instrumento pedagógico imprescindível no estudo de campo, pois ajuda os estudantes pesquisadores na construção de seus conhecimentos, uma vez que serve como guia para suas reflexões ao estimular a análise crítica sobre o meio, sendo utilizado também como forma de acompanhar o processo de ensino-aprendizagem do aluno, ainda que em alguns casos, não substitua a presença supervisora do professor. Neste contexto, mesmo munidos do material de apoio e do embasamento teórico absorvido no primeiro momento das oficinas, os grupos de pesquisadores foram supervisionados por dois guias de campo durante os passeios de estudo ao Centro Histórico de Cruzeta que acompanharam de perto todo o processo de construção do conhecimento. Mas para melhor problematizar nossa experiência de Educação Patrimonial e Ensino de História Local tendo como cenário e objeto de estudo o Centro Histórico de Cruzeta, iniciaremos, pois, a discussão, relacionando algumas narrativas a cerca da história do sítio pesquisado e suas possíveis utilidades para a prática do ensino de história.
O Centro Histórico de Cruzeta está repleto de memórias e narrativas envolvendo principalmente os modos como a população local se apropriou de seus bens culturais patrimoniais ao longo do tempo resignificando-os a cada geração. Nenhum adolescente que se interessou em saber de seus avós como aconteciam os namoros na cidade antigamente estará ignorante da importância que possuía o Mercado Público Municipal construído no início da década de 1930 para esta prática social, além, é claro, de sua utilidade primordial como centro comercial do local. Ou aqueles mais curiosos ainda não deixarão de saber que a Escola Estadual Otávio Lamartine construída em 1935 para servir de primeira instituição de ensino formalizado às crianças do crescente povoado (Cruzeta passaria à Vila em 1937 e à categoria de Cidade em 1953) serviu também de sala de cinema para a exibição de filmes na década de 1960, de palco para apresentações de peças teatrais, ou de salão para os bailes e festas sociais até a década de 1970.



Mercado Público Municipal de Cruzeta em reforma em meados da década de 1950

Além destes exemplos outros poderiam ser citados aqui, como o do Açude Público de Cruzeta construído em 1929 no perímetro sul do centro da cidade com o objetivo de amenizar as problemáticas da seca no semi-árido nordestino, mas que nos fins da década de 1960 e no decorrer da de 1970 foi utilizado como cenário principal da festa “Manhã de Sol” onde a "beira” de suas margens era “transformada em praia” e recebia além de banhistas e desportistas da população local (as “manhãs de sol” eram freqüentemente comemoradas com competições de “remo, nado ou salto”), outra pessoas provenientes das cidades circunvizinhas. (GOES, 1971. p. 68-69)



Os passeios de canoa durante as manhãs de sol no Açude Público era algo bastante apreciado pelos banhistas locais. Fotografia tirada no final da década de 1960

Tendo em vista estas narrativas já construídas e difundidas oralmente na comunidade, nosso trabalho de visita ao Centro Histórico de Cruzeta buscou desenvolver por meio da observação visual e sensorial do meio pesquisado, exercício que abrange a primeira etapa da Metodologia da Educação Patrimonial, estimular nos alunos uma “percepção histórica” destas memórias a partir do olhar do historiador sobre os fatos culturais observados, isto é, a visão que percebe as manifestações do Patrimônio Histórico Cultural como resultado de um processo histórico mais abrangente (visão macro da história) em observação a seus diversos ritmos de duração e aquela que busca enfocar seus aspectos mais particulares em decorrência da dinâmica do lugar (visão micro da história), mas que, de modo geral, sem deixar de estabelecer relações sempre quando possíveis entre o local, o nacional e o global. Desse modo, observar as configurações atuais do Centro Histórico de Cruzeta, seus elementos constitutivos, seus aspectos físicos e simbólicos, seus usos e significados a partir do olhar do historiador, é perceber que este possui uma historicidade à medida que se insere numa dinâmica cultural que ultrapassa gerações e épocas, que interrelaciona-se com outros espaços e temporalidades, ainda que suas representações se renovem sempre na contemporaneidade.
Com esta orientação partimos da idéia de que a composição inicial do núcleo urbano de Cruzeta formado fundamentalmente a partir da construção do Açude Público em 1929, a edificação da Capela de Nossa Senhora dos Remédios em 1921, além de outras escassas construções para uso residencial e posteriormente comercial erguidas neste período, ou seja, as “sementes de civilidade” para se dar início a construção de uma cidade, não surgiram por um acaso, mas sim, só pode ser historicamente entendido se situado na tessitura de uma conjuntura histórica mais ampla que extrapola a lógica da dinâmica local, não sendo por tanto produto apenas da ação de alguns indivíduos, que por motivo ou outro, agiram voluntariamente sobre esta circunstância. Assim, entender as circunstâncias históricas que contribuíram para a construção do Centro Histórico de Cruzeta é situá-lo no passado que nos permite responder a questão por quê escolheram este local para se fundar um núcleo urbano no meio do sertão seridoense potiguar nos alvores do século XX.



Foto da celebração da Missa Campal realizada em 1921 em frente a capela em construção de Nossa Senhora dos Remédios que marca o nascimento do povoado de Cruzeta

A resposta mais convincente para esta indagação seria aquela que se detivesse a explicá-la a partir dos fatores socioculturais, políticos e econômicos possíveis de serem observados na trama histórica, o que dentro do contexto estudado poderíamos descortinar neste período uma região cuja elite político-econômica local buscava afirmar nos valores de civilidade e progresso representados pela vida racional nas cidades e pelo desenvolvimento do comércio e da indústria circulantes no meio político e intelectual nacional o caminho mais curto para se chegar à modernidade, aqui entendido em oposição a um “sentimento de ruptura com o passado” de atraso, de dificuldades e de estigmas provocados pelas adversidades da natureza e da sociedade que vinham “castigando” as populações locais desde tempos precedentes.
Esta busca pela modernização do interior do país, isto é, os chamados sertões brasileiros, representa o desejo ou o esforço das elites político-econômicas nacionais em “atualizar” o Brasil com o ritmo de desenvolvimento vivenciados neste período pelas nações européias ou pelos Estados Unidos, num momento em que os espaços territoriais conhecidos por sertões passaram a ser vistos como um fator de impedimento para a modernidade da nação. A problemática das secas no semi-árido nordestino era um destes fatores que mais citavam preocupações nos meios políticos. A construção do Açude Público de Cruzeta foi um desdobramento desta circunstancia histórica inicial, o que não impediu que as elites locais não utilizassem deste benefício para assegurar seus privilégios e domínios na região. Não se pode ensinar uma história da Cidade de Cruzeta do início de sua fundação até os fins de 1970 sem referir-se a importância que a cotonicultura na sua produção e experimento das fibras e sementes do chamado “algodão mocó” representou para o próprio desenvolvimento da cidade. Para cá vieram muitos homens e famílias de outras localidades da região e até de outros Estados circunvizinhos trabalharem na construção do açude, nas usinas de beneficiamento ou nos campos cultiváveis do algodão mocó que passaram a construir residências próximas ás imediações do Açude Público dando continuidade ao processo de edificação do centro histórico da cidade. É importante esclarecer neste ponto que isto não diminui a importância das ações deliberadas por outros indivíduos que agindo no meio das circunstâncias mais gerais, também foram movidos por outros motivos adversos a desempenharem suas funções dentro deste processo histórico, exemplo bastante conhecido na cidade da figura de Joaquim José de Medeiros, que ao doar as terras recebidas por herança para o assentamento do povoado que passou a se chamar Cruzeta veio, então, a ser reconhecido pela comunidade como o seu fundador.
O perigo em atribuir a um indivíduo ou a um grupo circunscrito de pessoas as honras de fundadores de uma cidade se incidi sobre a interpretação reducionista da realidade que desconsidera como importante o trabalho e as ações de indivíduos de outros grupos ou matizes sociais, levando a crer que estes não fizeram história e por tanto não merecem ter suas memórias preservadas às futuras gerações. A verdade é que ninguém funda uma cidade sozinho. Cada sujeito histórico dentro da lógica de seu meio social e cultural, desempenha as funções que lhes são próprias. Se levarmos em consideração esta reflexão sobre a história oficial do município de Cruzeta poder-se-ia dirigir-lhe um questionamento: em que lugar desta história ficou reservado o espaço daqueles homens que labutaram de sol a sol durante quase 20 anos para construir nosso principal reservatório de água, o açude público, acontecimento histórico dos mais importantes para o surgimento do povoado? Certamente estes não mereceram menções honrosas ainda que obtivesse algum reconhecimento como chegou a relatar Terezinha de Medeiros Góes em seu livro: “de igual importância nos princípios do nosso povoado foi a colaboração dos homens humildes, incógnitos, que em centenas aqui alojados, sob os ardores de um sol causticante, com seus rostos banhados de suor, construíram os alicerces desta cidade que os homens mais esclarecidos do passado edificaram (...)” [Grifos nossos](GOES, 1971. p. 55). Para estes homens “incógnitos” a nossa história oficial lhes reservou o silêncio.


Foto da construção do Açude Público tirada em meados da década de 1920. Aos homens que construíram a base de nossa cidade lhes seriam reservado o "silêncio" na história oficial de Cruzeta

As reflexões tecidas acima servem para orientar o leque de possibilidades que o uso do Patrimônio Histórico Cultural como documento histórico abre para se ensinar a história local. Tomando ainda como exemplo nossa experiência de Educação Patrimonial no Centro Histórico de Cruzeta, buscamos explorar uma abordagem da história que estimulasse nos alunos a percepção das permanências e descontinuidades em suas variações temporais a partir da análise e exploração do Patrimônio Histórico identificado. Portanto, entendido que o Centro Histórico de Cruzeta foi construído para atender as necessidades da vida em sociedade consolidando a qualidade humana da sociabilidade dentro de uma circunstância histórica mais abrangente, não poderíamos deixar de problematizar que seus usos e apropriações nem sempre foram os mesmos ao longo do processo histórico local.
Ao buscarmos explorar mais a fundo este enfoque teórico podemos estabelecer diante das fontes históricas disponíveis (fotografias antigas e relatos de memórias) pelo menos três recortes temporais para explicar os diferentes usos e significados que as populações locais fizeram deste espaço. O primeiro deles corresponde ao período de Povoado (1921 a 1937), momento em que um pequeno núcleo urbano é formado em torno da Capela de Nossa Senhora dos Remédios (1921), do Mercado Público Municipal (1931), do grupo Escolar Otávio Lamartine (1935) e nas margens do Açude Público (1929), mas que ainda se confunde com a própria paisagem rural dispersa nos arrabaldes.
O segundo recorte temporal pode ser feito no período em que o povoado passa a categoria de Vila (1937 a 1953) onde o Centro Histórico incorpora outras feições externas como a instalação do sistema de iluminação elétrica em 1939 que só duraria até o ano de 1943 (GOES, 1971. p. 60), a pavimentação das ruas principais com plano de arborização. Mas, contudo, mantêm as características duma comunidade tipicamente rural, mesmo que já em processo de urbanização. O ambiente predominante da sociabilidade local ainda continua sendo a zona rural, espaço mais habitado e disputado pelas populações locais.


A vida boêmia nos bares do centro urbano de Cruzeta. Fotografia tirada na década de 1960. O lazer semanal consagraria o centro urbano como espaço ideal para a sociabilidade na vida na cidade

O terceiro recorte pode ser situado na passagem de Vila para a categoria de cidade (1953 aos dias atuais), em que o Sítio Histórico passa a representar o “coração da cidade” e o centro da sociabilidade com a instalação das entidades de utilidade pública (a construção da Prefeitura e da Câmara Municipal é desta época), do Posto de Saúde (1958), do Grêmio Lítero Esportivo Cruzetense (1959) responsável em promover as festas sociais, da instalação da energia de Paulo Afonso (1966), momento em que as ruas principais perdem sua arborização, do serviço de abastecimento d’água na cidade (1969), da construção da Praça João de Góes (1969), da instalação do prédio dos Correios e Telégrafos (1969), dentre outros benefícios.


Parque Infantil sendo inaugurado no Dia da Criança em meados da década de 1970. A cidade reservaria um lugar importante para estes espaços de sociabilidade

Sobre a vida na cidade registrou Terezinha Góes em 1971: “há progresso cultural. O povo começa a interessar-se pelas técnicas, inventos e conquistas do homem moderno. (...) A pacatez é característica do nosso povo. Poucos crimes tem-se registrado aqui e esses poucos, em sua maioria, foram praticados por estranhos” (GOES, 1971. p. 71) Embora estes três recortes possam ser situados com uma certa facilidade, também dentro deste último é possível situar outros. Se observarmos que até meados da década de 1970, Cruzeta ainda permanecia uma cidade com fortes características rurais que se revelava no seu maior contingente populacional vivendo ainda no campo e na dependência da população urbana pela produção econômica campesina, iremos admitir que o centro urbano que agora incorpora a representação da cidade com todos os seus benefícios públicos e suas facilidades de vida e como lugar comum da fonte de renda e do trabalho só será forjado nas representações sociais a partir da década de 1980, onde se observa um rápido deslocamento duma significativa parcela da população rural para os espaços citadinos e o crescimento acelerado da construção civil e do setor terciário da economia. Esta variante pode ser explicada tendo em vista as mudanças provocadas pela penetração da mecanização do campo levada a cabo pela política de modernização rural empreendida pelo governo e o setor industrial brasileiro que passou a substituir parte da mão-de-obra campesina em meados da década de 1970 e os desdobramentos provocados pela decadência da cotonicultura na região que vinha desde anos anteriores perdendo espaço no mercado nacional do produto para a região Sudeste levando à falência às fazendas de lavoura do algodão.


Festa da Colheita do município de Cruzeta. Fotografia tirada no início da década de 1970. Os desdobramentos provocados pela mecanização do campo e a decadência da cotonicultura na região iriam mudar profundamente os sentidos e representações da celebração.

Em vista disto, o patrimônio histórico-cultural não deve ser percebido como um “registro” estanque de uma época. Ao se constituir num bem patrimonial transferível, isto é, numa herança cultural que se repassa de geração a geração, ele se reveste de uma natureza dinâmica e mutável que se inscreve sempre no tempo presente, ou seja, incorpora as funções, usos, representações e sentidos que cada geração confere a ele ao longo dos tempos. Assim, para entender o conjunto de significados e funções que se atribui ao Centro Histórico de Cruzeta em seus matizes contemporâneas, torna-se imprescindível conhecer a história local, pois todo fato cultural, entendido por Santos “como uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade” (SANTOS, 1987. p. 37) é também uma construção histórica, ou seja, se revela no tempo e no espaço possíveis de serem identificados.
Foi com base nestas reflexões que as visitas aos chamados “lugares de memórias” do município de Cruzeta, entre estes o Mercado Público Municipal, a Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios, a casa do Fundador da Cidade, o Açude Público e a Escola Estadual Otávio Lamartine, para citar apenas os mais consagrados situados nas imediações do centro Histórico pesquisado, buscou a partir do registro e exploração destes bens, estabelecer uma conexão com os conhecimentos em construção sobre a história local, perpetrando nos alunos pesquisadores o estímulo em descobrir outras fontes e documentos que pudessem enriquecer seus conhecimentos a cerca da história do sítio pesquisado. Para isto é que velhas fotografias antigas sobre o centro urbano, relatos e informações obtidos a partir de entrevistas com os moradores locais, pesquisas em livros e jornais foram utilizados como meio de se investigar e compreender a história local.


Aspecto da Avenida principal Dr. Sílvio Bezerra de Melo no final da década de 1940 antes do asfaltamento das ruas contigenciais

A percepção do Centro Histórico de Cruzeta como um fato em constante mutação presente nos registros de vários alunos pesquisadores revela um dado importante para avaliarmos a compreensão da história apreendida por estes durante as oficinas de Educação Patrimonial. A relação que estes estabelecem entre presente/passado a partir do dado analisado e o esforço em situar os fatos na “lógica do tempo” é uma informação valiosa que demonstra o nível de “imaginação histórica” alcançado pelo educando. Um dos alunos pesquisadores do projeto registrou em seu caderno de campo (ficha de acompanhamento) suas impressões sobre o sítio pesquisado: “as ruas principais do centro eram calçadas como hoje em dia, as casas possuíam modelos antigos que hoje estão sendo reformadas e se tornando cada vez mais modernas, restando apenas poucas delas. Não existia saneamento básico e as pessoas sofriam muito com as muriçocas. Só a partir de 54 é que passou a existir o calçamento nas outras ruas”. Em vista disto, ao ser apropriado pelo processo educacional, o patrimônio histórico cultural identificado nos remanescentes do passado deve ser utilizado na busca pela compreensão e avaliação do modo de vida e dos problemas enfrentados pelas populações que nos antecederam esforçando-nos para entender as soluções encontradas para estes mesmos problemas ao longo dos tempos e suas permanências nos dias de hoje.
Construir um saber histórico local a partir do Centro Histórico de Cruzeta foi uma experiência enriquecedora que permitiu a muitos estudantes locais compreender as transformações históricas pelas quais vivenciaram os diversos sujeitos sociais na urdidura da história e suas permanências no tempo presente. Da fundação do povoado de Cruzeta em 1921 ao ano de execução do projeto (2008) já se passaram quase 90 anos de história em que o sítio pesquisado veio se definindo como o verdadeiro “coração da cidade” embora que suas funções e significados nos tempos de Vila (1937 a 1953) tenham se diferenciados em muitos aspectos das dos últimos tempos onde este está voltado mais às práticas comerciais e festivas e menos do lazer e da sociabilidade cotidiana. Em seu caderno de campo um estudante pesquisador do projeto registrou sobre isto: “é no centro histórico onde fica a praça da Igreja que antes era local de encontros de familiares, jovens, amigos, vizinhos e pessoas da comunidade mas que hoje devido a construção da praça de eventos [Praça Dr. Sílvio Bezerra de Melo localizada numa área externa do núcleo histórico principal] lá se tornou mais local de encontros amorosos por ser mais reservado. Não é mais como era antes”.
No entanto, para ensinar a história local a partir do Centro histórico de Cruzeta foi necessário explorar uma abordagem da história que estivesse ao alcance dos níveis cognoscíveis dos alunos envolvidos no projeto, já que estes eram provenientes de séries intermediárias do nível Fundamental e Médio de ensino, e, por tanto, detentores de graus diferenciados de aprendizagens, valendo-nos, pois, dos conhecimentos prévios dos educandos e de suas experiências históricas vividas para introduzi-los no entrelaçamento de novos significados e esquemas próprios das abordagens históricas, respeitando, sempre quando possíveis, as consideração espontâneas formuladas por intermédios de tais experiências, já que como nos orienta Bittencuort “a constituição de ‘conceitos científicos’ ocorre de maneira articulada aos ‘conceitos espontâneos’”. (BITTENCOURT, 2009. p.191).
Todavia, o desenvolvimento do projeto de Educação patrimonial e seus diálogos com a história local serviram para que os alunos envolvidos adquirissem um novo olhar sobre a sua comunidade e através deste pudessem visualizar no meio onde vivem os traços deixados por aqueles que no passado construíram e edificaram nossa cidade num contínuo processo de recriação à medida que cada geração ascendente buscou apropriar-se de seus patrimônios culturais, a partir de seus conhecimentos acumulados e de suas experiências presentes para tecer o nosso amanhã, forjando através da história a nossa Identidade Cultural. Assim “as pegadas daqueles que construíram o cotidiano do tempo que se passou são novamente repisadas pelos que fazem as trilhas do hoje, mas estas pegadas dos seres humanos do presente são marcadas pelos condicionamentos de seu tempo e os sonhos de um amanhã; são construções e reconstruções das ações humanas engendradas pela relação que o ontem, o hoje e o amanhã proporcionaram e nos fazem viver o presente, construindo o dia seguinte”. (RÊGO, Apud. MAGALHÃES JUNIOR. 2003, p. 33).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

AZEVEDO, Walclei de Araújo. Fatos pitorescos de Cruzeta. Natal: ed. do Autor, 2009.

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

COSTA, Elis Betânia Guedes da; ZEFERINO, Maria dos Milagres (Org.). Cruzeta, uma cidade repleta de memórias e poesias. Currais Novos: Tipografia Padre Ausônio, 2008.

GOES, Terezinha de Jesus M. Noções de Geografia e História do município de Cruzeta. Recife: Companhia Editora de Pernambuco, 1971.

GONÇALVES, José Reginaldo Santos. Monumentalidade e cotidiano: Os patrimônios culturais como gênero do discurso. In.__OLIVEIRA, Lucia Lipp (Org.) Cidade: História e Desafios. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2002.

GRUNBERG, Evelina. Educação patrimonial: trajetórias. In.__ BARRETO, Euder Arrais et. al. (Org.) Patrimônio Cultural e Educação: artigos e resultados. GoiÂnia, 2008.

HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina. MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília: IPHAN/Museu Imperial, 1999.

KARNAL, Leandro e TATSCH, Flávia Galli. A memória evanescente: documento e história. In. __KARNAL, Leandro e FREITAS NETO, José Alves de. (Org.) A escrita da memória. Interpretação e análise documentais. São Paulo/SP: Instituto Cultural Banco Santos, 2004.

MEDEIROS, Renilda Pereira de. Coletânea de entrevista: espelho da história e cultura cruzetense. Currais Novos: Tipografia Padre Ausônio, 2010.

MOURA, Ana Maria do nascimento. Avaliar como parte do saber docente: desafios e aprendizagens no componente curricular Memória e Patrimônio Histórico. In. ­­­­___ OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. (Org.). Como se formam os profissionais de História: vivenciais e experiências na iniciação à docência. Natal/RN: EDFURN, 2009.

OLIVEIRA, Almir Félix Batista de. Patrimônio, memória e ensino de história. In. ___ OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de; CAIMELLI, Marlenne Rosa; OLIVEIRA, Almir Félix Batista de.(Org.). Ensino de história: múltiplos ensinos em múltiplos espaços. Natal/RN: EDFURN, 2008.

PIZANI, Edílson José. Repensando a história local: a Igreja Matriz e seu entorno em Palmeira: um estudo de caso. UEPG/PR, 2008. Disponível em http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1821-8.pdf. Acesso em 17 Agt. 2011.

RÊGO, Sheila Novais. A Educação Patrimonial e o ensino de História. Disponível em http://www.ce.anpuh.org/download/anais_2006_pdf/. Acesso em 17 Agt. 2011.

SANTOS, José Luiz dos. O que é Cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.

SILVA, Kalina Vanderli; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2008.

Postado por PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E EDUCAÇÃO (Luciano Acyolli).

domingo, 2 de janeiro de 2011

SÉRIE: PREFEITOS DE CRUZETA

Sérvulo Pereira de Araújo nasceu no dia 27 de novembro de 1909 e faleceu no dia 14 de agosto de 1978. Era filho de Joaquim Félix de Araújo (mãe não identificada). Era natural de Acari e veio morar na Fazenda Cauassu logo na infância. Anos mais tarde casou-se com Cândida Medeiros de Araújo. Dessa união nasceram onze filhos, sendo sete homens e quatro mulheres.
Era formado em Direito e foi indicado para ser prefeito de Cruzeta por Cônego Ambrósio, e nomeado pelo Governador do Estado do RN, Dr. Sílvio Pedrosa.
Exerceu seu mandato de 01 de janeiro de 1954 a 31 de janeiro de 1955.
Anos depois, mudou-se para Natal e foi trabalhar na Assembléia Legislativa. Candidatou-se a Deputado Estadual e foi eleito, mas não quis tomar posse. Foi ainda Delegado da Ordem Social em Natal-RN.

OBRAS RELEVANTES DA GESTÃO:
- Compra e instalação dos alto-falantes da difusora municipal.
- Ampliação do cemitério público.
- Pavimentação da parte central da cidade.
- Construção da cadeia municipal.

Dr. Sílvio Bezerra de Melo foi o primeiro prefeito Constitucional de Cruzeta, exerceu seu mandato de 31 de janeiro de 1955 a 31 de janeiro de 1960.
 Nasceu na cidade de Curais Novos-RN, a 13 de novembro de 1908. Era filho do Desembargador Tomás Salustino Gomes de Melo e de Tereza Bezerra Salustino.
Era Engenheiro Agrônomo, formado pela Escola de Agronomia de Belo Horizonte. Nessa cidade, contraiu núpcias com D. Débora Moreira, de cujo matrimônio nasceram cinco filhos, dos quais dois são cruzetenses.
Antes de exercer aqui as funções de Prefeito, Dr. Sílvio já havia morado na Estação Experimental do Seridó, como chefe daquela repartição. Foi naquela época que ele começa a prestar grandes serviços a Cruzeta, instalando uma Agência Telefônica, fazendo a arborização da Vila e construindo um lajão sobre o escoadouro do Açude Público, para facilitar o trânsito por ocasião do seu transbordamento. Além disso, foi proprietário da SAMBRA e da Fazenda Genezaré.

OBRAS RELEVANTES DA GESTÃO:
- Construção do Matadouro Público
- Construção da caixa d’água
- Casa de Força e Luz
- Instalação do Clube de Mães e a Sociedade Educadora


Joaquim Lopes Pequeno nasceu na cidade de Acari-RN. Em 03 de setembro de 1892.
Filho do Sr. Joaquim Lopes Pequeno e de D. Tereza Brasileira de Jesus, veio para a Fazenda Margarida em 1920, quando tinha início os trabalhos de construção do Açude Público, exercendo as funções de motorista e depois de armazenista. Contraiu matrimônio com D. Jacinta Veras, que residia no Sítio Saquinho.
Tiveram apenas um filho, que morreu algum tempo depois. Criou várias sobrinhas entre elas Iracema e Josefa Brandão, Mariinha e D. Chicota, e duas filhas adotivas: Lúcia e Daluz.
Foi pai de duas filhas com outra mulher, na cidade de Acari-RN
Foi eleito prefeito Constitucional a 3 de outubro de 1959, ficando no Poder Executivo de 31 de janeiro de 1960 a 31 de janeiro de 1965.
Em Cruzeta, Povoado e Vila, Joaquim Lopes foi Delegado do Ensino e da Polícia.
Foi considerado o maior comprador de algodão da região.
Morreu do coração e tinha câncer de próstata, aos 03 de outubro de 1970.

OBRAS RELEVANTES DA GESTÃO:
- Construção do Mercado Público
- Aquisição de verbas para a construção do prédio dos Correios e Telégrafos
- Instalação do Serviço Eleitoral

Pedro Etelvino de Góes nasceu na Fazenda Olho D’água, município de Cruzeta, aos 2 de julho de 1919 e faleceu aos 8 de agosto de 1981 na cidade de Natal, aos 62 anos de idade.
Era filho do casal João Damasceno de Góes e Maria Umbelina de Góes, sendo o 11º filho de uma descendência de treze irmãos.
Cursou o primário na Escola Isolada da Fazenda Margarida, localizada neste município. Cursou o ginásio e científico no Colégio Santo Antônio (Marista), em Natal-RN. Fez seu curso superior na Faculdade de Odontologia em Recife-PE.
Alistado no Exército Brasileiro, prestou serviço no período da Segunda Guerra Mundial, como Sargento do Exército Brasileiro. É considerado ex-combatente, por ter servido em zona brasileira.
Atuou como dentista durante 35 anos em Cruzeta e cidades circunvizinhas: São Vicente, Florânia, São José do Seridó e Acari. Treinou o sobrinho Adonias, que se tornou um excelente protético.
Dedicou-se também a educação, atuando como professor de Ciências Biológicas em Florânia e no Ginásio Ambrósio Silva, tendo sido diretor da CNEC de 1964 a 1974.
Dedicou-se à vida política: foi vereador, vice-prefeito e prefeito por duas vezes.
Casou-se com Antônia Pires Galvão (D. Antonieta). Desta união nasceram os filhos: Maria Dolores e Petrônio.

OBRAS RELEVANTES DA GESTÃO:
- Conclusão do Mercado Público
- Início e fundação do Açude Pitombeira
- Construção da Praça João de Góes
- Construção da Agência Postal e o Grupo Escolar Joaquim José de Medeiros
- Conclusão do prédio da Associação Educadora de Cruzeta
- Construção do Grupo Escolar Joaquim Lopes Pequeno
- Criação do Setor de Educação e Cultura

Cícero Simão Bezerra foi prefeito de Cruzeta em 31 de janeiro de 1970 a 31 de janeiro de 1973. (a família não disponibilizou maiores informações sobre a vida do mesmo).

OBRAS RELEVANTES DA GESTÃO:
- Criação da Comissão Municipal do MOBRAL
- Criação de escolas rurais nas localidades do Rio Salgado, Pau D’arco e Olho D’água
- Construção de uma ponte sobre um dos sangradouros do Açude Público
- Construção da quadra de esporte (a qual ficava ao lado do Fórum – há muito tempo demolida, onde atualmente se encontra o prédio da Junta Eleitoral)

Sinval Azevêdo nasceu aos 20 de novembro de 1914, na cidade de Caicó. Filho de Manoel Eduardo de Azevêdo e Iluminata Bezerra da Nóbrega.
Casou-se com Violeta Bezerra da Nóbrega, aos 18 de junho de 1955, na cidade de Campina Grande-PB. Dessa união nasceram três filhos: Gorete, Francisco Eduardo (Vivim) e Sinval Júnior.
Estudou apenas o primário e trabalhou na padaria de Seu Baé como balconista até os vinte anos de idade. Em seguida, foi trabalhar na SAMRA como classificador de algodão, chegando ao cargo de gerente na cidade de Santa Luzia-PB, mas foi transferido para São Tomé para trabalhar na algodoeira onde começou sua vida pública, sendo prefeito daquela cidade. Nesse mesmo ano casa-se com Violeta, sua prima legítima.
Aposentando-se volta a residir na cidade de Cruzeta, onde continuou a sua vida de agro-pecuarista, preservando a tradição do engenho de rapadura.
Chegou a ser vice-prefeito de Dr. Pedro Etelvino de Góes. Dr. Pedro apoiou Sinval Azevêdo como candidato à Prefeitura de Cruzeta, tendo como vice-prefeito o Sr. Chico Louro.
Governou o municio entre 1977 a 1983, tendo sofrido um atentado de morte.
Faleceu no dia 12 de fevereiro de 1992.

OBRAS RELEVANTES DA GESTÃO:
- Criação da comarca de Cruzeta
- Construção do Fórum Municipal
- Construção de Postos de Saúde nas zonas rural e urbana
- Construção do Posto Telefônico (TELERN)
- Construção da sede do Projeto Casulo (atual Secretaria de Ação Social)
- Ampliação do Cemitério Público
- Construção de pontes: na RR 082 em Cruzeta – Florânia; RN 288 – Badaruco
- Pavimentação asfáltica da RN 288 (trecho Cruzeta/ Acari)
- Instalação de uma Agência do Banco Nacional (extinto)
- Criação da Banda Marcial

Manoel Maurício de Medeiros (Medeirinho) nasceu na cidade de Cruzeta em 22 de setembro de 1941. Filho de Manoel Inácio de Medeiros e Maria Rosa da Conceição.

Em 1942 passou a residir no Sítio Todos os Santos, juntamente com seus pais e irmãos. Foram nove irmãos, mas apenas três sobreviveram; Joaquim Geraldo, Luiza Maria e Medeiros. Sua mãe nunca o deixou estudar, mas teve o cuidado de lhe ensinar as primeiras letras (carta do ABC) e um pouco das quatro operações.
Em 1951, quase aos dez anos, teve o seu primeiro dia de aula numa escola, cursando regularmente o Primário, Ginásio e o Técnico em Contabilidade. Sonhou ser engenheiro e falar mais de um idioma.
Ainda criança, passou por dificuldades, tendo que enfrentar determinadas tarefas, como subir em coqueiro, fazer tarrafa, gaiola, entre outros afazeres. Na adolescência, aos 16 anos, teve que superar a perda brusca de sua mãe. Daí, aos 21 anos passou a se envolver no trabalho mais pesado: assou xiquexique, trabalhou de alugado e foi apontador do Plano de Emergência no ano de 1958, em troca de mantimentos. Trabalhou também como balconista.
Exerceu diversas funções antes de se tornar um homem público. Prestou concurso promovido pela Prefeitura Municipal de Cruzeta no ano de 1962, para Fiscal Auxiliar. Foi ainda Fiscal Geral por merecimento, Tesoureiro Interino, responsável pelo XIII Recenseamento Demográfico e também pelo Censo Agropecuário. Participou do treinamento promovido pelo IBRA para o cadastramento de Imóveis Rurais do município de Cruzeta.
Ainda foi Chefe da Unidade Municipal de Cadastramento, participando de todos os treinamentos promovidos pelo INCRA, de 1972/ 1978. Além disso, ainda foi professor no Ginásio Cônego Ambrósio Silva, Tesoureiro da Paróquia de N. S. dos Remédios, Tesoureiro da antiga CNEC e também presidente do Conselho dessa Instituição.
Do seu matrimônio com Marluce de Medeiros nasceram cinco filhos: Mauricéa, Joaquim, Maria Rosa, Paula Marilene e Ana Eloiza.
Em 1978 foi convidado a ingressar na vida pública, mas não aceitou. Em 1982, depois de muito incentivo e apelo do povo, resolveu aceitar o desafio. Foi eleito como Prefeito dessa Comarca permanecendo como administrador por seis anos, de 1983 a 1988.
Em 1993 assume o 2º mandato permanecendo até 1996.

OBRAS RELEVANTES DA GESTÃO:
- Construção do Sistema de Esgoto Sanitário
- Construção de Sanitários Públicos
- Construção de postos de Saúde na Fazenda Cauassú e Mulungú
- Construção da Escola Thomaz Freire de Medeiros e Creche Celina Dantas Bezerra no Alto dos Remédios
- Construção de escolas na Fazenda Saquinho, Timbaúba
- Criação e instalação da Filarmônica 24 de Outubro
- Construção do Ginásio Pólo Esportivo Cruzetense “O Medeirão”
- Construção da Escola Municipal Ana Assis de Medeiros na COHAB
- Implantação da Festa Aqui Acontece São João
- Criação do Grupo de Idosos
- Dentre outras dezenas de outras criações e obras de menor impacto.


Geraldo Alves da Silva nasceu no Sítio Barro Branco, município de São José do Seridó-RN, no dia 29 de abril de 1940.
É filho de Antônio Lopes da Silva e Almira Dias da Silva, nascidos nessa região.
Estudou apenas o 1º Grau (Ensino Fundamental), mas isso jamais o impediu de crescer politicamente, tornando-se um político respeitado e admirado por todos. Carrega profundos conhecimentos e uma grande leitura de mundo.
Ainda criança, em 1948, na cidade de Jardim do Seridó, deu início à sua vida política, acompanhando o seu tio Joaquim Alves (que era político e foi Prefeito de Jardim do Seridó e Deputado Estadual).
Recebeu incentivo direto para entrar na vida pública do sogro, Sr. Francisco Inácio de Medeiros (Chico Louro) e do Sr. Pedro Etelvino de Góes.
Veio para Cruzeta em 1948 e filiou-se na UDN, depois na ARENA e PFL, vindo definitivo para o PMDB. Candidatou-se a vereador em 1964 e ganhou. Foi Vice-Prefeito por duas vezes e prefeito por três mandatos: 1989 a 1992/ 1997 a 2000/ 2001 a 2004.

OBRAS RELEVANTES DA GESTÃO:
- Construção da Praça Pública Dr. Pedro Góes (em frente ao Clube Municipal)
- Construção da casa residencial para o juiz desta Comarca
- Reforma da Biblioteca Pública Municipal (antigo Jardim de Infância)
- Adjunto de criação do Teatro Municipal Coisas da Terra (antigo O Boca do Inferno)
- Construção de um Posto de Saúde na comunidade Rio do Meio
- Construção do Conjunto Habitacional Francisco Inácio de Medeiros
- Construção do Conjunto Habitacional Antônio Alves da Silva
- Construção do Conjunto Habitacional Vicente Vital
- Criação da Secretaria Municipal de Agricultura
- Implantação de 53 orelhões públicos
- Construção da Praça de Eventos Dr. Sílvio Bezerra de Melo
- Reconstrução do Parque Infantil Cícero Simão Bezerra (demolido)
- Reconstrução do Cruzeiro das Almas (em frente ao cemitério)
- Ampliação do antigo posto de saúde, tornando-se Unidade Mista de Saúde Abílio Chacon Filho
- Compra do prédio da CNEC atualmente Escola Municipal Cônego Ambrósio Silva
- Construção da Pré-Escola Profª Ester de Souza Galvão (atual Secretaria de Educação)
- Construção da Praça dos ex-combatentes Francisco Adones de Medeiros
- Construção do Estádio de Futebol João Bosco de Medeiros Silva (Boscão)

José Sally de Araújo nasceu no dia 96 de novembro de 1963, no município de Acari, tendo sido registrado em Cruzeta, sendo filho do casal Sebastião de Araújo (Tico Araújo) e Srª Nazaré.
Com cinco dias de nascido foi morar na Fazenda Margarida e com dois anos de idade veio morar no Sítio Riacho do Jardim.
Aos sete anos de idade começou a estudar nessa mesma localidade e sempre foi um menino série, calmo, observador e risonho, mas não apreciava brincadeiras de mau gosto. Sempre foi um verdadeiro gênio em matemática e gostava de jogar botão e futebol.
Ajudava ao pai nas tarefas diárias, tais como tirar leite, pastorar e dar água ao gado, além de arrancar mato defronte à sua casa com um chibanque.
Aos doze anos veio morar em Cruzeta, na casa de sua avó materna Sílvia Maria de Góes, para estudar e começou a trabalhar na mercearia de seu tio, Sr. João Araújo, como vendedor. Aos treze anos seu pai abriu uma mercearia e o mesmo passou a tomar conta, junto com seu irmão Jucely.
Com quatorze anos fez um teste e passou para ser auxiliar de mestre de obras, na construção das casas da COHAB; Aos dezesseis foi estudar em Currais Novos, formando-se em Técnico Agrícola.
Aos vinte e oito anos abriu seu próprio negócio e atualmente é um empresário bem sucedido.
Casou-se com Edilene Praxedes e dessa união nasceram Sally Júnior, Sávio e Ester.
Com trinta e dois anos entrou na vida pública, sendo eleito vereador no ano de 1995, 1998 e 2001. Em 2004, candidatou-se a Prefeito, saindo vencedor, exercendo seu mandato de 2005 a 2008 e reeleito em 2009 para seu 2º mandato, indo até 2012.

OBRAS RELEVANTES DA GESTÃO:
- Criação do Centro Municipal de Educação Infantil Joaquim Lopes Pequeno
- Ampliação moderna da Escola Municipal Cônego Ambrósio Silva
- Cobertura da quadra da Escola Municipal Cônego Ambrósio Silva
- Construção da Escola de Inclusão Digital (COHAB)
- Duplicação com iluminação na Avenida Dr. Sílvio Bezerra de Melo
- Construção de 4 quiosques na Praça de Eventos
- Ampliação do Cemitério São João Batista
- Construção do Conjunto Habitacional Sebastião de Araújo
- Ampliação moderna da Escola Municipal Ana Assis de Medeiros
- Aquisição e construção dos ânticos prédios das usinas para funcionamento de fábricas de costura
- Entre outras inúmeras ações de realização com recursos próprios e convênios.

FONTE BIBLIOGRÁFICA DESTA SÉRIE: 1ª Amostragem Histórico-social de Cruzeta/RN (ENCAS).