sábado, 22 de maio de 2010

(Atores da C.T. Coisas da Terra).
O CRUCIFIXO DE MADREPÉROLA - (A lenda viva de Cruzeta).
No já distante mês de setembro de 1938, uma jovem, nos seus dezoito anos de idade, acompanhada do irmão, chega a Vila de Cruzeta, então Município de Acari; encarregada de estranha missão. Desconheciam o lugar e qualquer pessoa da Vila, mas trazia na lembrança as pessoas que deveria procurar e a tarefa a executar, nos mínimos detalhes, só assim, conhecendo menores particularidades, poderia retirar, de sob as águas do leito enlameado do açude público, um valioso crucifixo de platina. O açude, inaugurado em 1929, e que dera o nome ao povoado, inundara o antigo cemitério, no qual nas caladas da noite, há 44 anos, fora enterrado um machante, assassinado por um colega de profissão. No bolso, a vítima portava um crucifixo ignorado pelo assassino. E a paraibana viera resgatá-lo, cumprir um insistente pedido do morto, o que lhe parecia em visitas inesperadas. A princípio, ficara preocupada, mas habituara-se à sua repetição, que se prolongara até aquela data, ano de mau inverno, para lhe dizer que chegara a ocasião exata, para o resgate.
Seguindo determinação do ex-machante, os dois irmãos hospedaram-se na residência do casal Tomaz Paulino e D. Maroquinha. Outra testemunha fora D. Alice Gurgel, na época, viúva do Dr. Antídio Guerra, então chefe da Estação Experimental do Seridó, em Cruzeta, que dizia: Eu e Donzila conversamos com a moça, perguntei-lhe o que sentia quando via o espírito. A princípio disse ela: sentia muito medo, mas com o tempo, fui me habituando até conversar com ele naturalmente.
A notícia espalhou depressa e um pequeno ajuntamento de curiosos já se encontrava às margens da represa, que se alonga com a estiagem, quando a moça, o delegado José Luiz e o Sr. Tomaz, acomodaram-se numa canoa movida a remo, acompanhada por outra levando o comerciante João Lopes e o jovem Sinval Azevêdo (pai de Vivim), facilitados pelas águas paradas do açude, os dois pequenos barcos não demoraram chegar ao local, onde o Sr. Tomaz presumia encontrar-se o cemitério submerso. Mas, para espanto dos acompanhantes, a paraibana da cidade de Soledade discorda e, aponta para outra direção: “- Ele está dizendo que o lugar é ali”. No ponto indicado, ela desce com água um pouco acima dos joelhos. No meio de silenciosa expectativa, e deixando transparecer na fisionomia compreensível ansiedade, ela apalpa o leito raso do açude, mas só lama corre entre seus dedos. Inesperadamente, o seu braço é levemente desviado, como se alguém o puxasse, levando-o direto ao crucifixo, facilmente identificado pela apalpação.
O misterioso achado foi objeto de incontida curiosidade. Discutiam inclusive o seu valor material, chegando o Sr. Bila a pesá-lo na balança de sua farmácia. Os moradores do lugar, liderados pelo Pe. Ambrósio não queria deixá-lo sair de Cruzeta. A possibilidade de perder o crucifixo assustou a paraibana. Amedrontados, os irmãos, na manhã seguinte, ainda no escuro, passaram pelas ruas desertas da vila, e desapareceram na estrada de regresso a Soledade, para grande frustração do Pe. Ambrósio, que desejava ver o crucifixo no altar-mor da Capela de Nossa Senhora dos Remédios, padroeira da Cidade.
NOTA: No ano de 2009 um grupo de alunos da faculdade natalense, juntamente com o elenco da Companhia de Teatro Coisas da Terra de Cruzeta, produz uma curta metragem encenando a história narrada pelo casal Tomaz Paulino e D. Maroquinha.

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