domingo, 14 de novembro de 2010

ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DO SERIDÓ


Em 1679, chegavam ao Seridó, vasta região do Rio Grande do Rio Grande do Norte, os primeiros colonizadores vindos de Goiana e Igarassu, cidades pernambucanas. Logo perceberam que a terra era perfeitamente favorável à pecuária. Mas estava claro que pelas características da região, o algodão seria, posteriormente, a principal fonte de riqueza. E foi com base nisso que, na Câmara Federal, o parlamentar seridoense (não identificado) propôs, em 1922, a fundação de uma estação experimental de algodão fibra longa (mocó). Aceita sua proposta, a Estação Experimental foi criada pela portaria ministerial de 14.04.1924. O local escolhido foi a Fazenda Bulhões, município de Acari, passando a funcionar em 24.01.1925, em caráter provisório, uma vez que, posteriormente, ficaria submersa com as águas do açude Gargalheiras. O primeiro agrônomo foi o jovem Octávio Lamartine, formado na cidade de Lavras (MG) e graduado nos E.U.A., filho de Juvenal Lamartine. Nesta época, Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros já era governador e acompanhava todos os passos de seu vitorioso projeto. Não contente por ver suas instalações precárias e reclamando soluções, 2m 1929, ele, já Senador, resolveu transferi-la para a cidade de CRUZETA, distrito de Acari, onde a Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca (IFOCS) construía um açude de porte médio. Para isso contou com a colaboração dos Ministérios da Agricultura, Indústria e Comércio, através de um crédito de 100.000$000 (cem contos de réis). O governo do Estado também colaborou, em 1934, dando os terrenos necessários, em uma área de 472 hectares, sendo 110 de várzea e 362 de tabuleiro, fazendas que pertenciam aos senhores Antônio Praxedes de Medeiros e Pedro Cipriano Dantas. De início, foram construídas três casas, um escritório e um posto de meteorologia. Uma das três casas era destinada aos hóspedes pesquisadores e as demais, ao agrônomo chefe e seus auxiliares. É interessante observar que o escritório foi construído, aproveitando-se o material que sobrava das casas.
O senhor Francisco Raimundo de Araújo trouxera as primeiras sementes da planta a ser cultivada na nova repartição. Eram sementes do algodoeiro de tipo (mocó).
Em 1930, por questões políticas, o Dr. Octávio Lamartine (primeiro chefe) foi demitido, passando a chefia para o Dr Ursulino Veloso. Seguiram-se Dr. Josué Pimentel, Dr. João Batista Coortes, Dr. Antídio Guerra, Dr. Sílvio Bezerra de Melo, Dr. Fernando Melo do Nascimento, Dr. Alberto Rego, Dr. Válter Cortez e finalmente, Dr. Pedro Pires. Muitos nomes ilustraram a chefia da Estação, inclusive alguns cruzetenses.
Em 1936, Dr. José Augusto (então deputado federal), liberou verbas par a construção de residências para os trabalhadores dentro da própria área do campo de experimento, visto que a vila de Cruzeta distava mais de um quilômetro, evitando-se assim uma longa caminhada.
Antiga Usinas
O sistema mercantil se processava da seguinte forma: feita a colheita, o algodão ia para as usinas (onde atualmente são os prédios da Casa de Cultura Popular, Facções e depósito da Prefeitura, localizado na Rua João XXIII, antiga Rua da Usina) onde a semente era separada da pluma. A semente ficava para experimentos e a pluma era leiloada entre os compradores.
Outros produtos hortigranjeiros cultivados em terra não concedidos a funcionários eram vendidos na própria repartição. Quanto à irrigação, era feita através de um canal de pedras (ainda existente), partia do açude público de Cruzeta e se estendia até a área da Estação Experimental. Ainda na administração de Dr. Fernando fundou-se uma escola e a primeira professora foi à senhorita Angelita Brito.
Em 1875, a Estação Experimental do Seridó foi completamente desativada. Suas terras passaram parte para a EMBRAPA e parte para o DNOCS. As usinas de beneficiamento de algodão se fecharam. As casas dos funcionários foram quase todas demolidas e o material doado. Os funcionários se transferiram para outras repartições federais e os mais velhos se aposentaram.
Desde modo, chegou ao fim o sonho do Dr. José Augusto, e nosso algodão, produto que desde os tempos coloniais caracterizou o nosso Seridó.
Não é preciso pensar duas vezes para concluir o que representou o fechamento da Estação Experimental do Seridó, no município de Cruzeta (RN): reflexo do subdesenvolvimento e agressão à memória do Dr. José augusto Bezerra de Medeiros. Não foi só o Bicudo o culpado por este fim, mas os muitos desvios de verbas, de mão de obras e de posse particular de diversos chefes que por ali passaram.

(FONTE: Livro O Seridó na Memória do seu Povo).

2 comentários:

  1. Morei na Estacão quando criança meu pai Manoel Cardoso trabalhou lá como Observador meteorólgico durante 35 anos ininterrúptos, fazia anotações sobre o clima todos os dias ao meio dia e a meia noite estivesse fazendo sol ou chovendo, nunca faltou um dia de trabalho.Quando meu pai já estava com mais de 80 anos e como tinha uma exelente memória foi entrevistado pelo professor ADAUTO GUERRA que estava fazendo uma pesquisa para um trabalho de doutorado, infelismente Êle faleceu antes do livro ser publicado e ver suas memórias documentadas.

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  2. Muito bacana seu depoimento. Nossa história está sendo esquecida aos poucos, nos resta essas memórias dos antigos moradores e dos que continuam pesquisando.

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